Virou febre

Revista
Tpografia
  • Mínimo Pequeno Médio Grande Gigante
  • Fonte Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Brennda Andrade, de 14 anos, adora o brinquedo, que a deixa menos ansiosa, mas admite que pode se distrair com o uso dele na escola

Foto: Lucas Benevides

Recém-chegado ao Brasil, o hand spinner, uma espécie de ioiô moderno, trouxe também uma grande polêmica. O brinquedo, que virou febre no mundo inteiro, pode ser encarado como faca de dois gumes na escola. Com inúmeras cores e modelos, ele, basicamente, gira em seu próprio eixo  tanto pode ser usado para melhorar a concentração como para distrair.

A trajetória percorrida pelo hand spinner é longa. Em 1993, a engenheira química norte-americana Catherine Hettinger sofria de miastenia gravis, doença que causa fraqueza muscular, e por isso, não conseguia carregar os brinquedos de sua filha. Essa limitação fez com que ela começasse a pensar em outras formas de eliminar a energia acumlada da menina, e além disso, ajudar no tratamento de ansiedade, autismo, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade de outras crianças. Quatro anos de aperfeiçouamento mais tarde, a engenheira resolveu patentear o o brinquedo. 
Vencida a primeira etapa, Catherine começou uma negociação com a terceira maior empresa de brinquedos do mundo, a Hasbro,  mas seu desejo não se concretizou, pois a companhia não acreditou que o projeto tinha grande apelo comercial. Em 2005, ano em que deveria renovar a patente, engenheira não pagou a taxa exigida, US$ 400, e o projeto ficou de lado. 

Mas no fim do ano passado um comentário trouxe de volta o brinquedo. Um texto publicado pelo jornalista James Plafke listou o hand spinner como um item indispensável para um escritório. Como um passe de mágica, o hand spinner se tornou objeto de desejo não só de quem trabalhava em escritório: virou queridinho entre os youtubers, que começaram a fazer vídeos sobre ele. Cenário ideal para alastrar a epidemia do hand spiner pelo mundo.

A estudante Brennda Andrade, de 14 anos, convive com as duas faces da mania da garotada. 

“Sou muito ansiosa! Com o hand spinner comecei a perceber várias coisas em mim. Parei de roer unhas, fico mais concentrada e percebo que o meu tempo passa mais rápido. Além disso, o brinquedo é bem legal”, garante a estudante, que, por outro lado, reconhece que  o brinquedo pode ser uma distração.

Pedro, 10 anos, soube da novidade no colégio e correu para contar à mãe, Mariana, que aprovou

Foto: Lucas Benevides

“Mesmo sendo legal, eu sinto que me atrapalha um pouco na escola, porque fico horas com ele na mão. É meio louco”, admite.

 Já a secretária Mariana Fidelis, de 28 anos, percebe apenas o lado positivo. Ela soube do brinquedo através do filho Pedro, de 10 anos, que chegou da escola contando a novidade. 

“Logo que ele chegou falando sobre o brinquedo, perguntei o que significava, e fomos fazer uma pesquisa na internet. Acabei conhecendo melhor o brinquedo e seus principais objetivos. Um dos que mais me chamou atenção foi a diminuição do uso constante do smartphone”, diz.    

Mariana percebeu que o hand spinner poderia ser solução divertida para Pedro.              
    
”Consigo ver que a concentração dele vem melhorando. Não notei nenhum efeito negativo. Por enquanto não está atrapalhando na escola, porque ele brinca nos horários permitidos e não recebi nenhuma reclamação”, conta. 

A polêmica em torno do brinquedo é que o instrumento pode estar competindo com o professor na sala de aula. 

“Nenhuma pesquisa comprova os benefícios do hand spinner. O que está sendo mais discutido é justamente o contrário pois as crianças estão utilizando o brinquedo em momentos importunos, distraindo das atividades escolares. Algumas escolas, inclusive, já proibiram o uso do hand spinner, recolhendo o brinquedo e devolvendo no final da aula”, revela o doutor em Educação e psicopedagogo Eugênio Cunha. Para ele, os adultos devem ensinar a melhor maneira para o uso consciente do hand spinner.

“É imprescindível que o responsável oriente a criança a fazer o uso moderado do brinquedo, nas horas adequadas. Não é aconselhado usar durante as refeições ou na escola, pois realmente distrai”, afirma. 

Por se tratar de um brinquedo, para ser fabricado, importado ou comercializado, o produto precisa seguir os requisitos do Inmetro. Atualmente, 200 modelos de nove marcas têm o selo do órgão e estão liberados para venda. Segundo o Inmetro, “o hand spinner é contraindicado para crianças com idade inferior a 6 anos”.