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Moradora de Camboinhas, Sérvula Amado é dona do Sobrenatural, restaurante em Santa Teresa, no Rio, que é um dos polos de música do bairro
Foto: Colaboração / Beatriz Cruz
Quem comanda um dos principais endereços da gastronomia no bairro boêmio de Santa Teresa, no Rio, é uma moradora de Camboinhas: Sérvula Amado. O Restaurante Sobrenatural fica no coração de Santa e tem como carro-chefe os pratos com pescados e frutos do mar. Como se não bastassem as delícias, há também um cardápio musical de primeira aos finais de semana. Às sextas, por exemplo, o “Candombaile” tem animado a clientela ao som do ritmo dançante do candombe uruguaio.
Seu nome tem alguma história por trás?
Sérvula é o nome da minha mãe, como sou a última filha, ela me deu o seu nome. Significa “pequena serva” em latim.
Sua relação com a música vem antes do Sobrenatural?
Esta paixão nasceu comigo. Minha mãe foi criada nas rodas de choro que aconteciam na casa da minha avó, com Meira, Caçulinha do Acordeom, João da Baiana, Pixinguinha e tantos outros. Meus tios cantavam e tocavam vários instrumentos. Um deles, Valdemar Mello, era integrante do regional do Dante Santoro, que acompanhou Pixinguinha nos áureos tempos da Rádio Nacional. Enfim, vivi a infância e adolescência nesse ambiente musical!
No seu facebook, a gente vê fotos da Beth Carvalho, do Zeca Pagodinho, da Dorina, do Moacyr Luz. De onde vem esta amizade com estes artistas?
Fui nascida e criada em Irajá. Passei minha infância com a Dorina e o Zeca Pagodinho. Somos amigos até hoje. Nossos pais também eram amigos. Quando completei meus 18 anos, passei a frequentar o Teatro Opinião, em Copacabana, e o Sovaco de Cobra, que era um botequim sensacional na Penha. Naquela época era assim: havia um circuito de música, a gente ficava sabendo onde o samba estava bom e ia. Teve também a fase do Cacique de Ramos. Mas foi aos domingos, no Sovaco de Cobra, que eu conheci a Elizeth Cardoso, o Abel Ferreira, o Joel Nascimento, o Dino 7 Cordas. O Rafael Rabello era novinho, mas frequentava também. Depois, lembro que eu comprei um carro e passei a levar o Nelson Cavaquinho para casa, já que ele morava no Jardim América, que é do lado de Irajá. Também fui casada com o Wilson Moreira durante 10 anos.
Tem alguma história engraçada com o Nelson que você possa nos contar?
Quando eu chegava na porta dele, era sempre o mesmo golpe. O Nelson entrava, pedia para eu esperar só um minutinho, ia correndo guardar o violão, voltava, abria rápido a porta do meu carro e dizia: “Agora vamos! Vamos para a farra!”. Ele morava na Travessa Quincas Laranjeiras, acordava e ia direto pro bar do Seu Junito. O Nelson tinha adoração por este boteco. Se deixasse, ele passava o dia inteiro lá com o violão. Não parava de tocar. Tocava de pijama na cama. Depois de um show, se emendasse num bar ou restaurante, tocava também. Não cansava. Lembrei de uma outra coisa engraçada. Se ele fosse a um lugar diferente do que estava acostumado, depois de beber algumas, saía perguntando para as pessoas: “Você conhece o Nelson?”. Aí, se a pessoa dissesse “não”, ele continuava: “Não conhece o Nelson Cavaquinho?”. Agora, quando ele perguntava e a pessoa dizia: “sim, conheço”, antes dele falar o “Cavaquinho”, aí ele ficava todo bobo. A Beth Carvalho, inclusive, já viu muitas vezes ele fazendo esta pergunta. Aliás, ele tinha ciúme da Beth. Quando ela arrumava um novo namorado, ele dizia que não havia gostado do sujeito.
Você já tinha o “Know-how” de restaurante? Já tinha alguma experiência no ramo antes de comandar um em Santa Teresa?
Antes do Sobrenatural, eu tinha o Zona Norte, bar no qual aconteciam rodas de samba históricas com o Wilson Moreira, o Aniceto, Zé Luís do Império, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Luís Carlos da Vila e Eduardo Galotti, que, na época, era adolescente. Até o Olodum tocou em Irajá. Quando me veio a proposta de montar um restaurante em Santa Teresa, inevitavelmente o samba foi junto.
A música acontece no Sobrenatural às sextas, sábados e domingos. Há alguma seleção destes artistas que tocam no Restaurante?
Os encontros musicais que acontecem são como ensaios de amigos músicos. Às vezes em cima da hora. Como todos são ocupados com shows, viagens e gravações, quando coincide de estarem aqui, no Rio, armam um encontro e aí “o coro come”! Todos são amigos de muitos anos, fazemos também reuniões musicais na minha casa, em Niterói.
Você conheceu muitos músicos ligados ao universo do samba que já faleceram. Alguns partiram sem o devido reconhecimento. Na sua opinião, o que poderia ser feito para valorizar a memória destes artistas e apoiar aqueles que ainda permanecem entre nós?
Quando Hermínio Belo de Carvalho esteve à frente da Funarte, houve iniciativas bastante interessantes neste sentido. Percebi um fomento de projetos voltados para a música: concurso de monografias/biografias, gravações, shows, publicações, vídeos, depoimentos. O que vale mesmo para quem está vivo é a valorização do trabalho. “Flores em Vida”, como dizia Nelson Cavaquinho. Nesse sentido, acho importantíssimo linhas de apoio para artistas e pesquisadores. Acho importante um projeto nas escolas de apresentação da música brasileira: chorinho, samba, MPB conectado às outras disciplinas.
Por que não trocar Camboinhas por Santa Teresa para morar?
Ah! Porque, quando eu volto para casa, é tão bom! Eu adoro a praia, adoro o lugar que eu moro. Não tenho coragem de trocar.
Qual lugar você recomenda em Niterói para quem quer curtir um bom samba?
O Candongueiro, em Pendotiba, sem dúvidas.
Qual o prato que você indica para quem pretende conhecer o Sobrenatural?
Todos são maravilhosos, mas, se tivesse que escolher, diria para pedir de entrada o ceviche. Como prato principal, o coco do surubim, que é o peixe surubim grelhado com molho à base de leite de coco.
Por que você decidiu apostar em peixes e frutos do mar?
Cresci indo todas as semanas para a Feira de Irajá com o meu pai. Ficava na ponta do pé nas bancas para enxergar a variedade de pescados e perguntava para ele os nomes. Achava incrível. Tenho verdadeira adoração por peixes e frutos do mar.
Vocação: agregar
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