Por Por Selma Sabrá e Aderbal Sabrá
O motivo deste alerta, quanto à mamadeira assassina, ou copo assassino, se prende ao constante aumento do número de casos de alergia alimentar, em todo o mundo e particularmente entre nós, decorrentes do uso indevido de outros leites, no berçário e nos primeiros meses de vida, em substituição ao leite materno.
Este erro alimentar, da introdução precoce da mamadeira de leite de vaca ou de soja, no berçário, gera uma resposta inadequada no sistema imune da criança, originando o desencadeamento da alergia alimentar.
Esta mamadeira ou copo de leite de vaca ou soja, dada no berçário, deve ser chamada de “mamadeira assassina”, porque em determinadas circunstâncias o recém-nascido que a toma, fica alérgico ao leite de vaca ou soja e em nova exposição ao mesmo leite, pode ate fazer um choque anafilático e morrer.
Chamo esta mamadeira de “assassina”, pela desastrosa consequência do seu uso, em hora imprópria, no berçário, nos primeiros dias ou nos primeiros meses de vida, provocando o desencadeamento e a aceleração do processo de resposta imune no recém-nascido, que resulta em alergia alimentar.
A primeira indagação que fazemos, a nós mesmos, advém do conhecimento da alimentação do homem, através dos tempos, que repousava exclusivamente, no leite humano, dado desde o nascimento. O leite materno é o alimento natural e único, a ser usado por todo recém-nascido, desde que vem ao mundo, quando nasce até o desmame.
Desde o início da humanidade, que as mães amamentam seus filhos, desde o nascimento. O leite materno é suficiente para a nutrição essencial do recém-nascido desde o nascimento até o desmame, sendo capaz de promover o crescimento e o desenvolvimento de uma criança (O FLUMINENSE 26 MAIO 2019).
A modernidade, com seus avanços tecnológicos, criou as fórmulas infantis, derivadas do leite de vaca ou da soja, para serem usadas quando do desmame. Na transição do leite materno para os outros alimentos surge então a oportunidade para o uso das fórmulas infantis. Concebida com este fim, a fórmula infantil teve e tem um papel de destaque na dieta de toda criança. Seu uso, quando estabelecido no tempo adequado, tem lugar assegurado, no cardápio diário de toda criança.
O que não tem cabimento é o “modismo” do uso das fórmulas infantis, em substituição ao leite materno, desde o nascimento, quando se transforma em potente gerador de alergia alimentar, a mamadeira assassina.
Diz a enfermeira: vamos deixar a mamãe descansar por conta do parto cesáreo ter sido muito desgastante... e ela está com muitas dores do pós-parto... O pediatra muitas vezes prescreve leite materno ou a formula X, como uma prescrição de rotina, caso o neném tenha fome... O que ocorre então no berçário? Inicia-se de forma indevida a mamadeira de leite de vaca ou de soja...
Diz o pediatra: vamos introduzir este complemento porque o recém-nascido está chorando com fome e o leite materno não está sendo suficiente, ou ainda, vamos iniciar a mamadeira ou o copinho de leite de vaca por conta de que a mãe está com atraso na descida do seu leite...
No berçário: são tantas crianças chorando ao mesmo tempo que para acalmar os bebês melhor oferecer as mamadeiras ou os copinhos de leite de vaca para acalmá-las…
Diz a mãe: fiz plástica mamária e não tenho leite... meu leite é insuficiente, vamos complementar com a mamadeira... de leite de vaca ou soja...
Diz a avó ou alguém próximo da família: esse choro é de fome, sim eu sei, eu tenho experiência vivida com todas vocês, vamos logo dar esta mamadeira, porque o leite materno está fraco, para acalmá-lo... Por que é dada a “mamadeira assassina” de leite de vaca ou de soja no berçário? A resposta para este “modismo” pode ser variável:
De quem foi o erro da alimentação com mamadeira ou copinho no berçário?
ATENÇÃO: A falha principal foi a ausência de recomendação expressa do pediatra para o aleitamento materno exclusivo e a recomendação expressa proibindo a “mamadeira fatal” ou o “copinho assassino”, de leite artificial, no seu berçário.
É nosso o erro. Estou referindo-me a nós pediatras. Este desmando de termos leite de vaca e de soja, nos berçários é de nossa responsabilidade. O que se passa nos berçários de todo o Mundo, como também no nosso Brasil, com esta liberdade desenfreada do uso indiscriminado e indevido da mamadeira fatal é de nossa total responsabilidade.
Cabe somente a nós, pediatras, a responsabilidade da prescrição do que dar de comer aos nossos pacientes, desde que o mesmo tenha assistência médica.
Como pediatras e médicos de família, como berçaristas, como pediatras de sala de parto, como neonatologistas, como responsáveis pelo recém-nascido, cabe a nós, durante nossa visita diária, desde o primeiro contato com nosso paciente, ainda na sala de parto, no primeiro momento de escrever na papeleta de evolução de nosso cliente, deixar claramente por escrito e muito bem grafado:
O dia em que ao fim de cada prescrição de berçário, escrevermos estas quatro frases em nossas papeletas, iniciamos o fim do flagelo que é a mamadeira fatal. Ninguém é mais responsável por ela que nós pediatras.
Recado às mães
Quem primeiro tem que ser alertado é o obstetra, geralmente responsável pala indicação do pediatra da sala de parto, aquele que primeiro irá entrar em contato com seu filho, imediatamente após seu nascimento.
Você deve falar claramente com seu obstetra sobre seu desejo de amamentação exclusiva.
Cabe a cada mãe lembrar ao seu obstetra de que está atenta para a amamentação exclusiva e que querem conversar sobre isto com o pediatra da sala de parto.
Nesta conversa com o pediatra da sala de parto, ou de seu pediatra próprio, vamos deixar claro a eles que nada poderá ser dado ao seu filho, que não seja o seu leite materno.
Isto desde a primeira hora, primeiro minuto de vida. A literatura pertinente mostra a negligência dos pediatras quanto ao uso de mamadeiras nos berçários.
Que o pediatra que cuida de seu filho escreva na papeleta do mesmo as recomendações sobre a exclusividade do aleitamento materno (leve este recado destas quatro frases por escrito com você), pedindo encarecidamente e ele pediatra que deixe muito bem grafado na papeleta de seu filho ou filha:
- Proibido para este meu paciente outro leite que não seja o materno
- Proibido usar fórmulas infantis neste meu paciente
- Qualquer intercorrência alimentar me deve ser comunicada de imediato
- Na falta do leite materno só permito os aminoácidos
- Se apesar de todos estes cuidados, por uma razão maior, imprevisível, outro alimento tenha que ser dado ao seu filho, que seja uma fórmula hipoalergênica, de aminoácidos, para prevenir o aparecimento de alergia alimentar.
- Cuide para que todos estes cuidados sejam seguidos em defesa da saúde de seu filho.
- Não se esqueça que apesar de todas estas recomendações, tudo pode ser posto a perder no berçário, quando seu filho está só e longe de seus olhares.
- Converse com sua enfermeira e deixe-a a par de suas boas intenções de amamentar seu filho. Diga a ela que você fará amamentação exclusiva até oito meses.
- Peça a ela o mesmo que pediu ao seu pediatra, ou seja, nada além do seu leite materno para dar ao seu filho.
- O alojamento conjunto nas matenidades traz o berço de seu filho para dentro do seu quarto e com isso faz com que o bebe fique todo o tempo ao seu lado e sob sua observação,mamando em regime de livre demanda.
- Você deve pedir orientação para ajudar o neném a ter uma boa pega,para sugar de forma correta,pois isso auxilia na descida do leite,evita rachaduras e fissuras no mamilo. Se necessário poderá fazer uma ordenha e oferecer o seu leite para o bebê. Caso ele ainda apresente alguma dificuldade na sucção.
Estas recomendações e observações são fundamentais para um aleitamento materno exclusivo e para a saúde imunológica de seu filho.
Hospital Amigo da Criança
Segundo a iniciativa Hospital Amigo da Criança, idealizada em 1990 pela Organização Mundial de Saúde e pelo Unicef, devem ser cumpridos “os dez passos para o sucesso do aleitamento materno” para que o estabelecimento público ou privado seja credenciado como Hospital Amigo da Criança. Dentre os passos para o sucesso do aleitamento materno, evidenciamos e podemos citar o passo 6: “não dar a recém-nascidos nenhum outro alimento ou bebida além do leite materno, a não ser que haja uma indicação médica”
No próximo domingo: Pediculose - vulgarmente chamada de piolho