Leucemias da infância: o que é importante saber?

Os sinais e sintomas podem variar entre as crianças e alguns pacientes podem não apresentar nenhum deles - Foto: Sumaia Villela/Agência Brasil

Saúde
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Dando continuidade ao mês de alerta para o Câncer Infanto Juvenil, a autora especialista em hematologia pediátrica do INCA e mestre pelo Mestrado Profissional em Saúde Materno Infantil da UFF, fará apanhado geral sobre as leucemias da infância.

A leucemia é um tipo de câncer que tem origem na medula óssea e corresponde a aproximadamente 25% de todos os casos de câncer infantil. É o tumor mais frequente em crianças menores de 15 anos.

A medula óssea está localizada no interior dos nossos ossos (o tutano) onde estão as células responsáveis pela produção de todas as células do nosso sangue, chamadas de células-tronco ou células mãe. Estas células-tronco irão dar origem aos glóbulos vermelhos ou hemácias, que transportam o oxigênio, aos glóbulos brancos ou leucócitos, que são responsáveis por combater as infecções e às plaquetas, que são muito importantes na coagulação do sangue.

Nas leucemias, ocorrem alterações nas células-tronco que não permitem que os glóbulos brancos amadureçam ou funcionem adequadamente e assim ocorre a produção de células anormais ou células cancerosas, que se multiplicam, de forma descontrolada, causando a doença. Essas células ocupam o espaço das células normais e se acumulam na medula óssea, mas podem também invadir e ocupar outros órgãos e tecidos, como gânglios, baço, fígado e os ossos. Dessa forma, as células sanguíneas normais e saudáveis da medula óssea são substituídas por células anormais ou cancerosas ou leucêmicas.

Existem dois tipos de leucemias: linfóide e mielóide, mas na criança a mais comum é a linfóide. A leucemia pode ser aguda ou crônica, dependendo da velocidade de crescimento das células. Na leucemia aguda as células anormais ou cancerosas são células que não amadurecem, chamadas blastos, que progridem rapidamente invadindo alguns órgãos como veremos adiante. Já na leucemia crônica, estas células conseguem amadurecer, mas não funcionam adequadamente e progridem lentamente.

A leucemia mais comum na criança é a leucemia aguda, representando 95% das leucemias da infância. Destas, a mais frequente se chama Leucemia Linfoide Aguda ou LLA que corresponde a 80% das leucemias agudas; os outros 20% se refere à Leucemia Mielóide Aguda ou LMA. Apenas 5% são leucemias crônicas que na criança é a Leucemia Mielóide Crônica ou LMC, pois a Leucemia Linfocítica Crônica ou LLC não acomete as crianças. A maioria das crianças com Leucemia Linfoide Aguda quando são diagnosticadas e tratadas precocemente tem grande chance de ficarem curadas. (eu tiraria o definitivamente)

Algumas condições clínicas, como a síndrome de Down, irradiação, algumas drogas e produtos químicos parecem aumentar o risco de desenvolver leucemia.

Os sinais e sintomas principais das leucemias agudas, de uma forma geral, estão relacionados a diminuição de todos os componentes de nosso sangue, isto é, diminuição dos glóbulos vermelhos ou hemácias, que irá gerar uma anemia e também diminuição dos glóbulos brancos ou leucócitos (leucopenia), bem como das plaquetas (plaquetopenia). Estas alterações podem ser observadas na criança através de sinais de anemia como palidez e cansaço nas atividades físicas que a criança desenvolvia antes sem nenhum problema mas que agora se sente cansada ao brincar, correr, pular, etc. As crianças também podem apresentar quadros de febre e infecções mais frequentes, devido a baixa dos leucócitos - células responsáveis pelas defesas do nosso organismo, além de poderem apresentar sangramentos devido a baixa das plaquetas. Os sangramentos podem ser na boca, nariz ou pele, sendo que nesta aparecem manchas roxas no corpo chamadas de hematomas ou podem surgir pequenos pontos vermelhos chamados de petéquias. As alterações na quantidade de hemácias, leucócitos e plaquetas podem ser documentadas no exame de sangue chamado hemograma.

A dor óssea também é um sintoma importante e comum da leucemia e pode estar presente se houver invasão dos ossos pelas células anormais ou leucêmicas. Da mesma forma a criança pode se queixar de dor no abdome que poderá ficar grande e volumoso visto que as células leucêmicas podem infiltrar o baço e / ou o fígado, que assim, aumentam muito de tamanho surgindo a dor e a distensão do abdome. Os gânglios ou linfonodos da mesma forma podem ser infiltrados por estas células e aumentar de volume. Ás vezes eles crescem a ponto de serem vistos. Dor de cabeça, perda de apetite e perda de peso também podem estar presentes na criança portadora de leucemia.

É importante saber que a leucemia aguda pode se apresentar também com aumento e não diminuição do número dos leucócitos no hemograma, e neste caso corresponderia a um estágio mais avançado da doença.

Os sinais e sintomas podem variar entre as crianças e alguns pacientes podem não apresentar nenhum deles e a doença só ser descoberta por acaso em um exame comum de sangue, como acontece nas fases iniciais da doença.

Esses sinas e sintomas servem de alerta para os pais que devem consultar um pediatra para que, se houver realmente a suspeita de uma leucemia, a criança seja encaminhada o quanto antes ao especialista, o hematologista, e o diagnóstico e tratamento sejam logo estabelecidos.

O diagnóstico das leucemias é confirmado pela avaliação da medula óssea, através de um exame chamado mielograma. Outros exames também são realizados para acrescentar informações.

O tratamento irá depender do tipo de leucemia e inclui quimioterapia, radioterapia, imunoterapia e transplante de medula óssea.

Na leucemia não existe prevenção, então, saber um pouco mais sobre as leucemias da infância, pode ajudar no diagnóstico precoce para que o tratamento adequado seja logo iniciado e, assim, aumentar ainda mais as chances de cura.n