Vacinação contra a Covid-19

A Anvisa aprovou duas vacinas para uso emergencial: SinoVac/Butantan, , e Oxford/Astrazeneca, que estão sendo aplicadas na população brasileira - Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Saúde
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A pandemia da Covid-19 que, somente no Brasil, já provocou o óbito de mais de 228.000 pessoas até a presente data, modificou completamente o estilo de vida de uma população geralmente gregária e afetuosa. Afastou os amigos e familiares, isolados em suas respectivas residências na tentativa de frear o avanço do vírus, nos obrigou a utilizarmos máscaras quando em público e prejudicou a oferta de emprego e a economia do País. Isso sem falar na dor das pessoas que perderam entes queridos nessa batalha e no dia a dia dos profissionais de saúde, exaustos física e mentalmente.

Com todos os recantos do planeta atingidos pela doença, pesquisadores de diversos Países, incluindo o Brasil, se uniram em uma busca por tratamentos e vacinas. Resultados obtidos em cada etapa da pesquisa, que em outros momentos seriam sigilosos foram publicados em revistas científicas conceituadas, que optaram por abrir todas as publicações relacionadas ao coronavírus sem a necessidade do pagamento da assinatura. Qualquer cidadão interessado tem acesso aos dados publicados e esse é um dos motivos que acelera a pesquisa e está permitindo colocar no mercado em tempo recorde diversas vacinas eficazes. Outro fator responsável pela velocidade é o financiamento, as quantias investidas por governos, empresas e sociedade civil. Essa associação de dados compartilhados e dinheiro mundial investido é que permite esse tipo de salto tecnológico. Em termos de comparação podemos falar das duas grandes guerras que trouxeram, também em tempo recorde, diversas inovações até hoje utilizadas pela população, como por exemplo um sistema mais eficaz para transfusão sanguínea, o primeiro computador e até o teflon das panelas. Grandes catástrofes também trazem um legado para a ciência como um todo e é isso que está acontecendo no momento com a pandemia.

Para os que têm medo da velocidade é importante afirmar que as vacinas já aprovadas para uso emergencial ou definitivo não pularam nenhuma etapa das pesquisas, foram seguidos todos os protocolos de ensaio clínico e os dados estão sendo publicados após revisão por pares, ou seja, após a checagem por outros pesquisadores altamente qualificados. Em termos de aprovação no Brasil, a agência nacional de vigilância sanitária (Anvisa) ainda faz uma checagem adicional de todo o processo de fabricação, eficácia e possíveis efeitos adversos, que até o momento são mínimos, equivalentes aos efeitos resultantes de outras vacinas, como a da gripe, por exemplo.

Para os que têm medo da tecnologia, como por exemplo a utilização de vacinas baseadas em DNA ou RNA, não se trata de pesquisa recente, há muito tempo laboratórios vêm investindo nessa tecnologia para desenvolver vacinas para outros patógenos. Não há riscos de modificação genética do indivíduo vacinado. Em uma pequena analogia podemos citar a vacina para hepatite B, aplicada no Brasil, e que utiliza DNA na sua composição.

A Anvisa, até a presente data, aprovou duas vacinas para uso emergencial: SinoVac/Butantan, a base de vírus inativado, e Oxford/Astrazeneca, a base de vetor viral contendo o DNA de uma proteína do SARS-Cov-2. A título de informação, o vetor viral utilizado pela vacina de Oxford foi desenvolvido em 2012. Dessa forma, foi apenas necessário trocar o antígeno do outro vírus pelo DNA de uma proteína do vírus atual garantindo velocidade ao processo.

Qual vacina é a melhor? As duas são eficazes e previnem as formas graves da doença, sendo isso que importa para controlarmos a pandemia e regressarmos o mais rapidamente a normalidade.

Formas graves da doença requerem hospitalização e tem pior prognóstico, muitas vezes evoluindo para óbito. É fundamental que vacinemos a maior parte da população, garantindo a famosa imunidade de rebanho, para eliminarmos as necessidades de lockdown, isto é, fechamento de comércio e serviços não essenciais, que acabou por associar uma crise sanitária a uma crise econômica, com inúmeras perdas para o País.

Nesse momento muitos se perguntam, por que as prioridades na fila de vacinação? Por que profissionais de saúde e idosos em primeiro lugar? Sabemos que o lockdown se torna necessário quando temos a iminência de colapso da rede hospitalar. Ao analisarmos as internações é possível observar que a parcela mais atingida da população são os profissionais de saúde expostos a alta carga viral, idosos acima de 60 anos e indivíduos com comorbidades, como por exemplo diabetes e hipertensão arterial. Dessa forma se queremos evitar o colapso da rede e o fechamento de comércio e serviços precisamos vacinar primeiro essa população, já que ainda não há imunizantes para todos. Na sequência serão vacinados outros grupos prioritários como, por exemplo, os professores. A prioridade visa ir do grupo de maior risco de internação para o de menor risco, abrangendo com o tempo todos os segmentos da sociedade civil e protegendo inclusive nossas crianças, que ainda não poderão ser vacinadas, devido aos testes não terem contemplado essa faixa etária. É a mesma lógica da vacina da gripe, primeiro os mais vulneráveis.

Os vacinados já poderão deixar a máscara de lado nesse momento e se aglomerar? Ainda não! Os estudos de transmissão ainda não estão finalizados, ou seja, pessoas vacinadas a princípio podem continuar se infectando e transmitindo, mas sem apresentar sintomas importantes, o que já é um excelente avanço.

No futuro teremos um número maior de vacinas aprovadas, produção nacional sem dependência do exterior, vacinas disponíveis em clínicas privadas e uma provável campanha de vacinação anual para Covid-19. Teremos a tão sonhada imunidade!

Dessa forma se chegou a sua vez na fila de prioridades VACINE-SE JÁ, estimule seus parentes e amigos a se vacinarem. É seguro e é a única forma de iniciarmos gradativamente um retorno ao nosso conceito de normalidade. Afinal somos um povo conhecido pela cordialidade e contato físico e queremos nos abraçar sem medo e sem máscaras novamente.

Luciana Dolinsky é doutora em Ciências na área de genética humana e médica e membro do Observatório Evidências Científicas Covid-19 (http://evidenciascovid19.ibict.br/).