Depressão na gestação

Por Dra. Maíra Gonçalves de Oliveira Lucas, a convite da professora Selma Sabrá, especial para O FLU - Foto: Pixabay

Saúde
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Existe uma doença que afeta cerca de duas em cada dez gestantes e que quase ninguém fala a respeito: a depressão na gestação.

A gravidez é um dos momentos mais especiais na vida de uma mulher. Apesar de ser vista em nossa cultura de forma idealizada, é também marcada por uma grande intensidade de sentimentos ambivalentes como o medo e desejo de ser mãe. Vem carregada de expectativas, mudanças no papel social da mulher, alterações hormonais e corporais, o que faz deste período um dos mais vulneráveis para o risco de psiquismo da mulher em idade fértil. Muitas vezes é um momento de confusão, medo, estresse e até depressão. 

Durante o pré e pós-natal, existe uma tendência a se concentrar mais na saúde física do que na saúde mental. Além disso, ainda há um estigma relacionado ao transtorno depressivo, o que faz com que gestantes deprimidas não sejam na grande maioria das vezes identificadas e tratadas nos serviços de saúde. O diagnóstico de depressão na gravidez pode ser facilmente confundido com os efeitos colaterais causados pela gravidez, sendo assim negligenciado e desta forma pode trazer riscos ainda maiores não somente para a grávida, mas também para seu bebê.

Os sintomas de depressão na gestação são semelhantes aos da depressão que atinge a população em geral. Eles podem começar com intensidade fraca e mascarados de uma indisposição ou cansaço, considerados normais. A depressão não tratada pode levar a quadros de desnutrição, alcoolismo, tabagismo, uso de drogas ilícitas, comportamento suicida, dentre outros. Todos estes problemas podem desencadear parto prematuro, restrição do crescimento intrauterino, aumento de complicações pós-natais na mulher e no bebê. Identificou- -se, através de pesquisas, que os filhos de mães com depressão são particularmente sensíveis ao estresse. Inúmeros estudos mostram como o cortisol, conhecido como hormônio de estresse, atravessa a barreira placentária fazendo com que estes bebês sejam mais hiperativos, chorosos, apresentem mais chance de atraso do desenvolvimento, alterações comportamentos e distúrbio de sono, já que o vínculo mãe bebê está profundamente alterado. O que preocupa na sensibilidade maior ao estresse é a alteração de imunidade e do desenvolvimento, risco aumentado de doenças cardíacas e síndrome metabólica além do risco dessas crianças desenvolverem problemas psicológicos futuramente. A mulher com depressão na gestação também tem maior risco de episódios depressivos recorrentes e de depressão pós-parto. 

Desta forma, podemos entender como a depressão na gestação é um problema de saúde pública, que afeta não só a mãe e o bebê, mas a família onde eles estão inseridos e a sociedade como um todo. 

É, portanto, fundamental, que a atenção básica esteja atenta ao rastreio e diagnóstico da depressão na gestação. São mulheres que sofrem em silêncio à espera de serem identificadas e tratadas e o profissional de saúde é o elemento chave na transformação do momento mais desafiador da vida de uma mulher: a maternidade.

É essencial que todas as gestantes procurem conversar sobre seus sentimentos e sobre sua saúde mental com o profi ssional de saúde, no atendimento pré-natal. Conversar e dividir suas angústias poderá ajudar a prevenir uma série de manifestações que pode perdurar não apenas nos meses de gestação, como também comprometer e afetar toda a relação mãe-filho futuramente. Quando mais cedo a ajuda vier, maiores as chances de uma gravidez feliz e saudável.

*Maíra Gonçalves de Oliveira Lucas é médica pediatra e aluna do Mestrado Profissional em Saúde Materno Infantil, da Faculdade de Medicina da UFF; orientada pela professora Maria Isabel do Nascimento, médica ginecologista e epidemiologista.