Bolsonaro pode romper com o PSL

Bolsonaro apoiou a reeleição do presidente Maurício Macri - Foto: José Cruz/Agência Brasil

Política
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A advogada eleitoral Karina Kufa, que representa o presidente Jair Bolsonaro, afirmou, nesta quarta (9), que há desgaste na relação do presidente com os dirigentes nacionais do Partido Social Liberal (PSL) e sinalizou uma possível desfiliação da sigla. A afirmação, que ocorreu após reunião entre o presidente e outros parlamentares, também insatisfeitos com a sigla, vem depois que o presidente nacional do partido, Luciano Bivar, afirmou que Bolsonaro "já está afastado" da legenda.

"São diversos desgastes. O presidente Jair Bolsonaro sempre levantou a bandeira da ética, da transparência e exigia iso sempre dos dirigentes do partido, mas foi muito difícil entrar em um acordo quando um partido não está disposto a abrir simplesmente uma votação democrática, seja para alteração do estatuto, seja para eleição de dirigentes. Então ficou insustentável em razão desses motivos internos, que acontecem em alguns partidos, mas que não dá para o presidente levar um encargo tão grande em um partido que acaba não permitindo que haja essa pluralidade", disse Kufa, a jornalistas, no Palácio do Planalto.

Na última terça (8), após Bolsonaro recomendar, na saída do Palácio da Alvorada, que um apoiador esquecesse o PSL, Bivar afirmou que a declaração foi "terminal" e que Bolsonaro "já está afastado" do partido. Bolsonaro, ao se referir a Bivar, também afirmou que o presidente do partido estaria "queimado para caramba", no que diz respeito as investigações de candidaturas laranjas de mulheres em dois estados da União.

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O líder do PSL no Senado, Major Olímpio, também demonstrou, durante sessão ordinária da última terça (8), surpresa com as declarações do presidente. Olímpio afirmou ainda, em plenário, que falou com Bivar, com o vice-presidente do partido, Julian Lemos, e com o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, para entender o motivo ou a intenção com as declarações.

"Só posso dizer que fiquei perplexo. Eu não sei a motivação oficial do presidente. Só o presidente pode esclarecer a manifestação dele", afirmou.

Segundo a explicação da advogada Karina Kufa, Bolsonaro acredita que a sigla deixou de ser transparente. 

"O PSL deixou de ser pelo menos um partido transparente. A questão da ética a gente vai ver nos próximos capítulos", disse a advogada, acompanhada do advogado Admar Gonzaga, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que também tem orientado Bolsonaro em questões eleitorais. Segundo Gonzaga, o presidente não está confortável no partido.

"A única coisa que ele tem em mente é a transparência do ambiente onde ele está convivendo. Como isso não foi permitido no ambiente em que ele se encontra, ele, como tem a bandeira da nova política, da transparência com o dinheiro público, não está confortável no ambiente onde ele se encontra", disse o ex-ministro do TSE.

O ex-ministro do TSE também afirmou que a jurisprudência permite a desfiliação sem perda do mandato, para Bolsonaro e demais parlamentares da Câmara dos Deputados que desejarem, desde que comprovem uma "justa causa".

"Com justa causa, segundo a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, é possível a saída do partido sem perda do mandato, essa é a regra da fidelidade partidária", afirmou. O ex-ministro não quis revelar, no entanto, se a suspeita de fraudes em candidaturas do partido pode ser usada como argumento para a saída de parlamentares, mas pontuou que a falta de transparência nas contas da legenda pode configurar uma justa causa para desfiliação sem perda de mandato.

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Apoio parlamentar

Após a reunião com Bolsonaro na tarde desta quarta (9), 19 parlamentares do PSL divulgaram uma carta, na qual manifestaram apoio ao presidente. Segundo o documento, apesar das arestas recém expostas, os parlamentares ainda desejam continuar no partido.

"Nós, parlamentares do PSL, comprometidos com o projeto de um novo Brasil, que foi e que é encabeçado pelo nosso presidente Jair Bolsonaro, reiteramos o acordo firmado em 2018 com a grande maioria dos brasileiros de construir um país livre da corrupção, em nome dos valores republicanos voltados à consolidação da nossa bandeira de ética na democracia e de justiça social. Para isso, é necessário construir uma plataforma partidária ampla, cujo núcleo central é a solidez de um partido orientado pelos princípios e valores expostos acima, que nos foram confiados e seguem sendo defendidos pelos brasileiros. Esse partido, para nós, ainda é o PSL", diz trecho da carta.

Entretanto, o mesmo documento afirma que mudanças são desejadas no partido.

"Mas para que partido contribua para o estabelecimento de uma nova política, é preciso que a atual direção adote novas práticas, com a instauração de mecanismos que garantam absoluta transparência na utilização de recursos públicos e democracia nas decisões. Isso se torna ainda mais importante levando em conta que no ano que vem serão realizadas eleições municipais, nas quais esperamos ver o povo brasileiro reafirmas as ideias e conceitos que garantiram a eleição do presidente Jair Bolsonaro. Não perdemos as esperanças na criação de um canal de diálogo que resulte na reunificação dos que foram eleitos com essas bandeiras. É isso o que a sociedade brasileira quer. Assim, temos certeza de que essa é a vontade de todos e de cada um de nós filiados: a construção de um partido forte, transparente, democrático e que represente os anseios da sociedade brasileira", complementa a carta.

A carta é assinada pelos deputados federais Carla Zambelli, Bia Kicis, Bilbo Nunes, Hélio Lopes, Alê Silva, Cabo Junio Amaral, Chris Tonietto, Luiz Philippe de Orléans e Bragança, Aline Sleutjes, Guiga Peixoto, Carlos Jordy, Márcio Labre, Filipe Barros, Vitor Hugo, Sanderson, Eduardo bolsonaro, General Girão, Daniel Silveira e Luiz Lima.

Fundo eleitoral

Bolsonaro se filiou ao PSL em março do ano passado para disputar as eleições presidenciais. Após ter eleito a segunda maior bancada de deputados federais, na eleição de 2018, e obter o maior número de votos entre todos os eleitores do país, o PSL passou a ter direito à maior fatia de recursos do Fundo Eleitoral, estimada em cerca de R$ 400 milhões para o próximo pleito, no ano que vem, que vai eleger prefeitos e vereadores.